Entrevista


No ano de 2021 a historiadora Mariana Siqueira me entrevistou para sua tese de mestrado sobre a arte de rua como forma de apropriação e trabalho! Segue a entrevista.

 No caso do artista itinerante Reinaldo Glusczka o contato com o malabarismo
aconteceu a partir da vivência nas ruas. Reinaldo nasceu em Ponta Grossa onde morou parte de sua vida, atualmente reside na cidade de Ibaiti-PR. Logo no início da conversa ele relatou ser difícil pensar sobre sua vida e o primeiro fato narrado foi sobre o abandono pela mãe biológica logo após o nascimento e das dificuldades no contexto familiar. Nas palavras de Reinaldo:
"Eu nasci no banheiro da rodoviária da cidade de Ponta Grossa e fui adotado por 
uma família tradicional de imigrantes ucranianos e poloneses foragidos da 
Segunda Guerra, então foi bem difícil o começo da estrutura para minha família. 
Logo depois disso eu estudei numa escola que tinha contato com a periferia, 
desenvolvi o vício por drogas. Desenvolvi a dependência química, minha mãe já 
era dependente química e passei praticamente a minha vida inteira utilizando 
substâncias químicas."

Reinaldo enfatizou ser difícil pensar sobre a sua vida, certamente foi por isso que procurou não falar muito sobre parte dela e resumiu sua infância e juventude no trecho 
acima. Respeitando as suas emoções e as reações que as lembranças poderiam lhe causar, disse para que ele falasse apenas sobre o que se sentisse confortável em narrar. 
No ano de 2014, Reinaldo formou-se no curso de Licenciatura em História, pela UEPG. Em meados de 2018, diante de dificuldades pessoais causadas pelo vício em 
drogas, ele deixou a cidade de Ponta Grossa e passou a viver nas ruas. Neste mesmo ano iniciou a sua trajetória como artista de rua itinerante, pois foi durante esse momento de sua vida em que ocorreu o primeiro contato com a arte de rua ao aprender malabarismo com outro artista de rua itinerante, conforme narrou: 
"Quando eu saí pra viajar foi porque eu explodi (voz embargada) eu tava desempregado, viciado em drogas, eu estava acabado. Minha vida tava acabada né? E eu não sabia mais o que fazer. Nesse meio tempo eu conheci um malabarista com seis anos de viagem, já fazia diversos malabares, e ele perguntou pra mim se eu tava disposto a aprender com ele e sair viajar. Eu topei, eu tava desesperado, foi um momento ruim da minha vida que eu tava passando. (aumenta o tom de voz) Eu topei e foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida! Entende como? Ter aprendido malabares salvou a minha vida. "
Assim iniciou-se a trajetória de Reinaldo como artista de rua itinerante, em dois anos viajando se apresentou em diversas cidades dos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Ele contou que nesse período morava na rua, dormia em praças das cidades por onde passava e sobrevivia unicamente das contribuições arrecadas durante as apresentações no sinal.
Reinaldo vai tecendo sua narrativa sobre o trabalho com a arte de rua pautando uma série de acontecimentos que delinearam a sua vida. Ser artista de rua não foi uma escolha clara, foram as situações de desespero e necessidade vivenciadas por ele que, de certa forma, o fizeram artista de rua. Com uma trajetória marcada por problemas 
familiares, desemprego e pela dependência química, há um esforço constante em sua narrativa, expresso no olhar e no tom de voz, em dizer como a arte de rua salvou a sua vida. 
Há um sentido interessante na construção de sua narrativa que mostra o trabalho com a arte de rua como refúgio diante das dificuldades da sua vida. E interessa observar que, através de experiências diferentes, esse sentido ecoa nas outras trajetórias ouvidas. Ao final da entrevista perguntei para Reinaldo se havia algo mais que ele gostaria de falar, ele concluiu sua narrativa enfatizando que aprendeu a ser responsável por si mesmo e a sentir orgulho por saber praticar malabarismo, pois foi a arte de rua que abriu caminhos para deixar o vício em drogas, constituir uma família e estabelecer residência fixa na cidade de Ibaiti-PR.

MARIANA FERNANDES SIQUEIRA. NO PALCO DA VIDA: APROPRIAÇÕES, PRÁTICAS E MODOS DE TRABALHAR DE ARTISTAS DE RUA NA CIDADE DE PONTA GROSSA-PR (2010-2020), PONTA GROSSA 2021.

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da 
Universidade Estadual de Ponta Grossa -UEPG, para obtenção do título de Mestre em 
História 

 




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